Café a Dois (Parte II)
Levanto-me da cadeira para te cumprimentar, e sinto o teu perfume, o mesmo cheiro, o mesmo aroma. Sentas-te à minha frente, na cadeira de sempre. O tempo passa mas sabemos sempre os lugares a que pertencemos. Estás mais magro, consigo achar-te mais abatido, olheiras mais definidas, e um ar mais preocupado.
Sorrio, delicadamente e continuo a mexer o café com a colher. Não estou nervosa. Não fiquei com o coração a bater a mil. Não estou a suspirar e consigo perceber que as minhas mãos não suaram. Esta sou eu, firme e serena, confiante mas tranquila. Mas em ti, consigo perceber algum nervosismo. Pegas no jornal que estava em cima da mesa, lês o título em voz alta, e começas a gracejar, fazendo-me sorrir.
Quebraste o gelo, e começamos a conversa com as coisas mais triviais, o típico: "que tens feito", "tens ido ao ginásio". E quando não queremos falar de nós, falamos dos outros: "soubeste o que aconteceu com fulano" "tens estado com os nossos amigos". A conversa foi-se soltando, fluindo naturalmente, sem perguntas constrangedoras. Até que soltas um "sabes" e fazes uma pausa, olhas para mim, com aquele olhar que eu reconheço mas não sei descrever em palavras. Existem olhares difíceis de traduzir.
Este teu "sabes" deixou-me desconfortável, e declarou o início da conversa sobre nós. "Tenho pensado muito em nós", contínuas, "tenho pensado no que tínhamos, no quanto eu era feliz e não sabia. Tenho saudades tuas Ana. Não sabes o quanto me arrependo de te ter deixado." Fico atônita. Não esperava encontrar-te tão "nu" e despido de orgulho. Não, quando foste tu que saíste da nossa vida, clamando que não precisavas mais de mim, que estavas saturado, que precisavas de uma vida nova, e que já não me amavas.
De repente deixo de te ouvir, só consigo ver os movimento dos teus lábios, e na minha cabeça as imagens da tua ida. Começo a sentir as minhas mãos a suar. Ouvir aquelas tuas palavras, viraram-me do avesso. Estive este tempo todo a arrumar o meu coração, e a apanhar todos os estilhaços. Para agora sentires te no direito de voltar a entrar na minha vida, como se nada fosse?
Deixo-te falar, não te interrompo. Não preciso. “Não tens nada para dizer?” perguntas desesperado.
“ Não sei o que dizer” - não conseguia verbalizar
“ Como assim? Não sentes o mesmo? Não queres recuperar o tempo perdido?”